Coquinho danado de bom

Coquinho danado de bom
Redação Caro Gestor | 14/03/2011

Uma pequena noz com sabor de coco. É por isso que andam dizendo por aí que licuri é coco pequeno. Tão gostoso e nutritivo quanto o coco, velho conhecido e símbolo das regiões litorâneas, a amêndoa de aproximadamente três centímetros ganhou em Caldeirão Grande/BA, no semiárido baiano, o apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) e da Prefeitura da cidade para, através de uma cooperativa, fortalecer a economia local e garantir produtos de qualidade.

Também conhecido como ouricuri, alicuri e nicuri, o licuri é responsável pelo sustento de diversas famílias de Caldeirão Grande. A amêndoa é fruto da palmeira, planta tipicamente brasileira que pode produzir até oito cachos com mais de 1.500 coquinhos cada. E todo mundo que tem um pé de licuri no quintal, quando nota que os frutos estão num tom amarelo vermelho, sabe que está na hora de cortar o cacho e colocá-lo para secar. Depois, quase que numa diversão em família, é hora de quebrar o coco, que é comercializado por R$ 1, o quilo.


No entanto, este jeito típico de tratar o fruto desperdiça muitas de suas potencialidades. Tudo no coquinho pode ser aproveitado, desde sua casca, que contém cálcio e magnésio, até a parte mais dura que envolve a amêndoa. Fazer o melhor aproveitamento do fruto é um dos objetivos da Cooperativa dos Colhedores e Beneficiadores de Licuri de Caldeirão Grande (Cooperlic). Além da amêndoa in natura, a Coo-perlic incentiva a fabricação de barras de cereais, cocada, óleo, artesanato, entre outros produtos.

“Toda uma vida trabalhando com licuri”


De acordo com Maurício Santana, Secretário de Agricultura da cidade, 70 famílias de produtores estão ligadas à cooperativa. A estimativa é que duas mil famílias tenham no licuri alguma fonte de renda no município que tem mais de 13 mil habitantes. “Toda uma vida trabalhando com licuri. Criei meus filhos com o licuri”, diz Edísia Guimarães, mais conhecida como Santa, que há quatro anos está à frente da Associação dos Pequenos Agricultores do Licuri. Na comunidade quilombola de Raposa, que fica distante pouco mais de 10 km do centro da cidade, dona Duvaldina Justina de Jesus, conta, sentada no chão de sua sala, que gosta de colher os frutos, mas não tem mais disposição física para retirar o coco. “Nasci quebrando licuri. Pra catar no mato, pra juntar licuri é bom, mas pra quebrar me dá um sono, as galinhas comem o meu licuri todo (risos). A coluna dói”. Todos que quebram licuri de modo tradicional: fruto sobre uma pedra e outra pedra na mão para rachar o coquinho, re-clamam de incômodos na coluna.


Em parceria com a Prefeitura, a Coo-perlic disponibilizou para cada associação máquinas feitas especialmente para quebrar o licuri. “Antes a gente quebrava 15, 20 (kg de licuri) por semana. Agora com a máquina é mais ligeiro”, diz Santa. Desenvolvida pelo IFBA quando este ainda quando este atendia pelo nome de CEFET, a máquina tem capacidade para quebrar 600 kg de coco em uma hora. Se fosse quebrada de forma tradicional essa quantidade de coco precisaria de 60 horas para ficar no ponto de retirar a amêndoa. Para dona Duvaldina, o problema está acabado: presente em nossa visita à comunidade de Raposa, o secretário de agricultura garantiu-lhe uma máquina para o povoado. Raposa tem aproximadamente 250 habitantes.


“A expectativa é que as pessoas se conscientizem da importância da cooperativa e se associem”, diz Mailde Silva, produtora que faz parte da cooperativa. A Cooperlic recebeu da Secretaria de Indústria e Comércio do Estado um galpão onde, depois das reformas devidas, funcionará a fábrica dos derivados do licuri. Os cooperados contam com o apoio da Prefeitura, que custeia as despesas de alguns membros levando-os para eventos como a Feira Internacional da Agropecuária (Fenagro), Feira Baiana de Negócios da Chapada Norte (Feban) e encontros de economia solidária, para que possam expor os produtos do licuri. Em termos de recursos financeiros, R$ 140 mil financiados pelo BNDES já foram disponibilizados para compra de equi-pamentos. “A ideia é que deixem de ser quebradores de ouricuri e passem a ser catadores de ouricuri e com isso tenham uma fonte de renda certa”, diz a prefeita Aparecida Martins, que garante: “Se há uma forma mais avançada de se fazer ganhar dinheiro através do ouricuri, nós estamos fazendo de tudo para que dê certo”.


Tudo com licuri


No restaurante de dona Vidi tudo leva licuri. “É raro eu usar o óleo de soja. Quase tudo que eu faço é com o óleo do licuri”, diz a proprietária do lugar que recebe todos os dias gente de diversas cidades vizinhas para provar do seu tempero.


Pato ao leite do licuri, feijão verde, arroz, cuscuz, mungunzá e bolo de milho do mesmo jeito. E se o prato é moqueca, o leite não poderia ser outro senão do coquinho. “Meus avós e bisavós, que eram catadores de licuri, faziam essas receitas”, diz dona Vidi que revela também que essa é uma prática natural na cidade.


Professora aposentada do Estado, Vidi conta que “cozinha desde menina”. Quando ainda lecionava, dividia seu tempo entre a sala de aula e a cozinha. “Eu ensinava, mas tinha o restaurante. Iniciei com uma barraca na feira vendendo vatapá, tudo no leite do licuri”. Hoje, vem gente de várias cidades próximas como Ponto Novo, Capim Grosso, Saúde, Jacobina provar seus pratos.
Fonte:  http://www.carogestor.com.br/noticias/index.php?id=644&cat=476























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